Investigador do CIEC apresenta "Vacina Anti-Tabágica"
A criação de uma "Vacina Antitabágica" foi o culminar de um trabalho de década e meia do investigador do CIEC José Precioso. O público alvo são crianças e jovens, através de três "doses da vacina" a serem aplicadas em diferentes etapas do seu crescimento: a primeira, denominada "Domicílios sem fumo", em alunos do 4.º ano; um primeiro reforço, o "Smoke Out I", no 6.º ano de escolaridade, e uma última dose a ser ministrada a estudantes do 9.º ano. As "Vacinas Antitabágicas" tratam-se, pois, de programas educacionais que visam, através da educação para a saúde, desenvolver nos alunos resistência contra os fatores que os podem levar a ser fumadores. Neste momento, o programa está sendo aplicado a estudantes do ensino primário das cidades de Braga e Vila Verde.
A problemática em si é bem conhecida e há números bastante indesejáveis, tanto a nível nacional quanto internacional: um estudo da equipa do investigador José Precioso, de 2010, divulgado pela Direção-geral da Saúde, revela que uma em cada três crianças em Portugal estejam expostas ao tabaco em casa e no carro; a nível internacional, um relatório de 2011 da Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que a exposição passiva ao fumo é causa de 600 mil mortes por ano, sendo 28% delas de crianças. Considerando ainda as futuras vítimas e o prejuízo nas vidas de inúmeros fumadores ativos precoces, torna-se crucial atacar frontalmente este comportamento evitável.
O programa "Domicíliossem Fumo" tem como finalidade promover a prevenção do tabagismo e daexposição ao fumo ambiental do tabaco, em casa e no carro, levando as própriascrianças a sensibilizar os seus familiares a não fumarem nestes locais. Esteprograma foi desenvolvido no âmbito do projeto "Prevenção das Crianças àexposição do fumo ambiental do tabaco no seu domicílio". Na sua avaliaçãoparticiparam quase 800 crianças. Um ano depois, verificou-se que cerca de 20%dos pais fumadores abandonaram o vício do tabaco. Metade deixaram de o fazerdentro de casa ou do carro, contribuindo para a melhoria da qualidade doambiente circundante dos menores.Os "reforços" das vacinas, os programas SmokeOut I e II sãoconstituídos por 6 a 15 sessões durante um ano letivo, e mais de 600 alunos do9º ano participaram na sua avaliação. Depois da aplicação do programa, porexemplo, registou-se uma queda acentuada entre os rapazes consumidoresregulares de tabaco, cuja prevalência passou de 10% da amostra para 4% depoisde lhes terem sido ministrado o programa.
O programa das "Vacinas Antitabágicas"tiveram raízes em planos similares desenvolvidos por volta do ano 2000, e sãoespecialmente endereçados às raparigas, pois constatou-se uma maior prevalênciado consumo de tabaco neste grupo durante a realização do projeto"Determinantes do consumo de tabaco em função do género: implicações paraa criação de uma geração de não fumadores", financiado pela Fundação paraa Ciência e Tecnologia (FCT).
Em consequência dos produtos resultantes destaspesquisas, foi assinado um protocolo entre as Câmaras Municipais de Braga eVila Verde. O protocolo visou garantir o envolvimento dos dois municípios naprodução de materiais pedagógicos necessários à implementação do programa da"Vacina Antitabágica" a todas as turmas do 4º ano das escolaspúblicas de ambas as cidades.
O trabalho do investigador neste domínio alargou-se,contudo, a diversas outras iniciativas contra os comportamentos aditivos emjovens, quer a participar em programas informativos de opinião pública,assinando artigos de opinião na comunicação social ou ainda a encabeçar umabaixo-assinado que foi enviado ao Ministério da Educação, visando banir o fumoem automóveis com crianças, posição que já defendia desde muito. O seuenvolvimento com esta causa vem de mais "longe", datando da década de90 os primeiros passos, durante a realização do seu mestrado nesta temática.Outro marco importante deu-se em 2001, quando foi sócio fundador da"Associação para a Prevenção e Tabagismo de Braga" (atualmentedenominada "Confederação Portuguesa para a Prevenção do Tabagismo". Otrabalho de sensibilização da comunidade para a problemática do tabagismodesenvolvido por esta associação deu origem a um plano regional de prevenção.Este foi premiado pela Sociedade Portuguesa de Pneumologia e, posteriormente,viria a inspirar o atual Programa Nacional de Prevenção e Controlo doTabagismo.
* Alguns produtos da investigação:
José Precioso, José Cunha Machado, Carolina Araújo& Isabel Sousa (2017). Relatório da Direção Geral de Saúde: Prevalência de criançasportuguesas expostas ao fumo ambiental do tabaco em casa e no carro.
Precioso J, Reis F, Sousa I, Sousa C, Machado J, DiasL, Samorinha C, Antunes H. (2016). Opinions on a car smoking ban: a neededguide for public health decision-makers. Gaceta Sanitaria, 30(1), 86-7.
Brito I, Precioso J, Correia C, Albuquerque C,Samorinha C, Cunha-Filho H, Becoña E. (2016). Fatoresassociados ao consumo de álcool na adolescência, em função do género.Psicologia, Saúde & Doenças, 16(3), 392-410.
Vitória, Paulo; Machado, José Cunha; Araújo, Ana;Ravara, Sofia; Samorinha, Catarina; Antunes, Henedina; Rosas, Manuel; Becoña,Elisardo; Precioso, José (2015). Children's exposure totobacco smoke pollution at home by region: A cross-sectional study. Revista Portuguesa de Pneumologia, Vol. 21, n.º 4 , pp. 178-184. (ISSN: 0873-2159).
Paulo D. Vitória, José Cunha Machado, Sofia B. Ravara,Ana Carolina Araújo, Catarina Samorinha, Henedina Antunes, Manuel Rosas,Elisardo Becoña, José Precioso (2015). Portuguese children'sexposure to second-hand tobacco smoke in the family car. Gaceta Sanitaria, Volume 29, Issue 2, pp. 131-134.
Notícias a respeito no blog do CIEC:
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